Brasil

Os documentos da CIA deixam claro: é hora de abrir os arquivos da Ditadura


Documentos da Central de Inteligência Americana, a CIA, revelam aquilo que já sabíamos, mas agora temos a prova que o presidente da República, na verdade, o ditador militar Geisel, antes Médici, depois Figueiredo, ordenavam o assassinato de opositores do regime, a tortura e o assassinato.
Muitos ainda desaparecidos, sem um enterro digno, sem que suas famílias conheçam o destino que tiveram.
O documento comprova e exige que os arquivos da ditadura sejam abertos. Essa luta nós fazemos há muitos anos. Durante o próprio governo do presidente Lula a fizemos, Genoino e eu.
Hoje o país acorda sabendo que o DOI-CODI, que era um órgão ligado ao Centro de Inteligência do Exército, portanto, ao Estado-Maior do Exército, portanto sob o comando do presidente da República e do Serviço Nacional de Inteligência, o SNI ordenavam o assassinato de opositores ao regime. Assim morreram depois dessa ordem dada em março e em abril de 1974, 84 opositores. E 104 já haviam sido assassinados.
A Lei da Anistia, na verdade, protegeu os criminosos, os torturadores, os assassinos que a sangue-frio matavam opositores.
É hora da Suprema Corte, o Supremo Federal Brasileiro, rever a Lei da Anistia. E é hora de as Forças Armadas abrirem seus arquivos. É preciso que o Brasil conheça quem foram os assassinos e eles respondam por isso na Justiça. Para que não volte acontecer o que se passou naqueles anos da ditadura. Jovens como Osvaldão do Araguaia, Osvaldo Orlando da minha cidade, Passa Quatro, assassinado. Zuzu Angel, a estilista, que lutava para esclarecer a morte de seu filho, assassinada num acidente forjado.
Assim foi também como João Leonardo da Silva Rocha, meu companheiro que voltou comigo para o Brasil para lutar contra a ditadura, assassinado na Bahia entre 74 e 75.
São centenas de jovens, homens e mulheres que lutavam pela liberdade, pela democracia, lutavam com aquilo que tinham, a sua vida, a sua juventude, seus sonhos, a luta pela liberdade.
Não podemos esquecer e precisamos punir os responsáveis por esses crimes. Que o estado brasileiro assuma e que as Forças Armadas abra os seus arquivos. Que o Supremo Tribunal Federal reveja a Lei da Anistia.
Leia mais:

Papéis da CIA que incriminam Geisel podem levar à revisão da Lei da Anistia


E também:

Itamaraty promete pedir acesso a documentos da CIA sobre ditadura militar no Brasil

Instituto Herzog quer que Brasil exija toda a papelada da CIA sobre a ditadura.


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    José Eduardo Garcia de Souza says:

    Certo. Mas, neste caso, José Dirceu deveria lembrar-se de que a revisão da Lei da Anistia – além de inconstitucional – , abre a possibilidade de revisão para os 119 que foram mortos pela esquerda, e cujas famílias não receberam qualquer compensação. Mais ainda, ele deveria lembrar-se de que isso pode trazer à baila os 19 mortos pela esquerda antes da proclamação do AI-5 o que destroça o argumento de que a esquerda “foi empurrada” para a luta armada pelo AI-5. Vejamos aqui os 19 “casos pré-AI-5”:
    1 – 12/11/64 – Paulo Macena, vigia – RJ
    Explosão de bomba em protesto contra a aprovação da Lei Suplicy, que extinguiu a UNE e a UBES. No Cine Bruni, Flamengo, com seis feridos graves e um morto.
    2 – 27/03/65 – Carlos Argemiro Camargo, sargento do Exército – Paraná
    Emboscada de militantes da FALN. Camargo foi morto a tiros. Sua mulher estava grávida de sete meses.
    3 – 25/07/66 – Edson Régis de Carvalho, jornalista – PE
    Explosão de bomba no Aeroporto Internacional de Guararapes, com 17 feridos e 2 mortos.
    4 – 25/07/66 – Nelson Gomes Fernandes, almirante – PE
    Morto no mesmo atentado acima. Além das duas vítimas fatais, ficaram feridas 17 pessoas, entre elas o então coronel do Exército Sylvio Ferreira da Silva. Além de fraturas expostas, teve amputados quatro dedos da mão esquerda. Sebastião Tomaz de Aquino, guarda civil, teve a perna direita amputada.
    5 – 28/09/66 – Raimundo de Carvalho Andrade, cabo da PM, GO
    Morto durante tentativa de desocupação do Colégio Estadual Campinas, em Goiânia. O grupo de soldados convocado para a tarefa era formado por burocratas, cozinheiros etc. Estavam armados com balas de festim. Andrade, que era alfaiate da Polícia Militar, foi morto por uma bala de verdade disparada de dentro da escola.
    6 – 24/11/67 – José Gonçalves Conceição (Zé Dico), fazendeiro – SP
    Morto por Edmur Péricles de Camargo, integrante da Ala Marighella, durante a invasão da fazenda Bandeirante, em Presidente Epitácio. Zé Dico foi trancado num quarto, torturado e, finalmente, morto com vários tiros. O filho do fazendeiro que tentara socorrer o pai foi baleado por Edmur com dois tiros nas costas.
    7 – 15/12/67 – Osíris Motta Marcondes, bancário – SP
    Morto quando tentava impedir assalto ao Banco Mercantil, do qual era o gerente.
    8 – 10/01/68 – Agostinho Ferreira Lima, Marinha Mercante – Rio Negro/AM
    No dia 06/12/67, a lancha da Marinha Mercante “Antônio Alberto” foi atacada por um grupo de nove terroristas, liderados por Ricardo Alberto Aguado Gomes, “Dr. Ramon”, que, posteriormente, ingressou na ALN. Neste ataque, Agostinho Ferreira Lima foi ferido gravemente, vindo a morrer no dia 10/01/68.
    9 – 31/05/68 – Ailton de Oliveira, guarda penitenciário – RJ
    Ação do Movimento Armado Revolucionário (MAR) para libertar nove de seus membros que cumpriam pena na Penitenciária Lemos de Brito (RJ). Ainda ficou gravemente ferido o funcionário da Light João Dias Pereira, que se encontrava na calçada da penitenciária. O autor dos disparos foi Avelino Brioni Capitani.
    10 – 26/06/68 – Mário Kozel Filho, soldado do Exército – SP
    Explosão causada por carro-bomba lançado contra o Quartel General do II Exército.
    11 – 27/06/68 – Noel de Oliveira Ramos, civil – RJ
    Morto com um tiro no coração em conflito na rua por Gessé Barbosa de Souza, eletricista e militante da VPR.
    12 – 21/06/68 – Nelson de Barros, sargento PM – RJ Como consequência da “Sexta-Feira Sangrenta”, passeata contra o regime militar onde cerca de 10.000 pessoas ergueram barricadas, incendiaram carros, agrediram motoristas, saquearam lojas, atacaram a tiros a embaixada americana e as tropas da Polícia Militar.
    13 – 01/07/68 – Edward Ernest Tito Otto Maximilian Von Westernhagen, major do Exército Alemão – RJ
    Assassinado na rua Engenheiro Duarte, Gávea, por ter sido confundido com o major boliviano Gary Prado, suposto matador de Che Guevara, que também cursava a mesma escola, por Severino Viana Callou, João Lucas Alves e um terceiro não identificado da Colina – Comando de Libertação Nacional.
    14 – 07/09/68 – Eduardo Custódio de Souza, soldado da PM – SP
    Morto com sete tiros por terroristas de uma organização não identificada quando de sentinela no Deops, em São Paulo.
    15 – 20/09/68 – Antônio Carlos Jeffery, soldado da PM – SP
    Morto a tiros quando de sentinela no quartel da então Força Pública de São Paulo (atual PM) no Barro Branco, por Pedro Lobo de Oliveira, Onofre Pinto, Diógenes José Carvalho de Oliveira, atualmente conhecido como “Diógenes do PT”, ex-auxiliar de Olívio Dutra no Governo do RS – da VAR.
    16 – 12/10/68 – Charles Rodney Chandler, capitão do Exército dos Estados Unidos – SP
    Executado na frente da sua mulher e filhos por ordem de um “Tribunal Revolucionário”, composto pelos dirigentes da VPR (Vanguarda Popular Revolucionária), Onofre Pinto (Augusto, Ribeiro, Ari), João Carlos Kfouri Quartin de Morais (Maneco) e Ladislas Dowbor (Jamil), por supostamente ser agente da CIA. O grupo de execução era composto por Pedro Lobo de Oliveira (Getúlio), Diógenes José de Carvalho Oliveira (Luis, Leonardo, Pedro) e Marco Antônio Bráz de Carvalho (Marquito).
    17 – 24/10/68 – Luiz Carlos Augusto, civil – RJ
    Morto, com um tiro, durante uma passeata estudantil.
    18 – 25/10/68 – Wenceslau Ramalho Leite, civil – RJ
    Morto com quatro tiros de pistola Luger 9 mm durante o roubo de seu carro, na avenida 28 de Setembro, Vila Isabel, RJ, por Murilo Pinto da Silva (Cesar ou Miranda) e Fausto Machado Freire (Ruivo ou Wilson), ambos integrantes da Colina.
    19 – 07/11/68 – Estanislau Ignácio Correia, civil – SP
    Morto por Ioshitame Fujimore, Oswaldo Antônio dos Santos e Pedro Lobo Oliveira, da VPR, quando roubavam seu automóvel na esquina das ruas Carlos Norberto Souza Aranha e Jaime Fonseca Rodrigues, em São Paulo.
    Não há desculpas para torturas e assassinatos de nenhuma espécie. E Dirceu deveria lembrar que “pau que dá em Chico dá em Francisco”, antes de ficar pedindo a revisão da Lei da Anistia.

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    Bom dia José Dirceu;
    O engraçado é que as pessoas que lutam pela democracia; não pedem a volta dos jornalistas ou dos médicos, dos artistas plástico, dos engenheiros, dos mascates ou outros profissionais que não os militares; Ué… Por que razão isso sucede?! O militar é um cidadão e profissional como outro.

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    Engraçado que a lista do José Eduardo Garcia de Souza apresenta em sua maior parte gente das FA ou que estavam em locais sob sua jurisdição. Há casos de mortes sem intenção. Já o mesmo não ocorre com as vítimas da ditadura. Foram em sua maioria mortos em dependências militares, desarmados, sem possibilidade de defender-se, depois de tortura. De qualquer forma, é preciso ressaltar que os militantes de esquerda foram, em sua maioria, punidos e o mesmo não ocorre com os criminosos do outro lado. A punição se torna mais necessária por envolver não ações de tresloucados mas um esquema que partia do próprio comando central e de presidentes da república. Além do mais, todos os crimes cometidos pela ditadura decorrem de um crime original contra a nação que foi o próprio golpe. Um atentado contra a constituição e portanto, aqueles que se levantaram contra a ordem ilegítima, estavam no seu direito à insurreição contra uma ordem ilegal.

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