Mundo

1º de maio nos EUA: precarização e miséria assolam os trabalhadores

Por anos, os Estados Unidos apagaram da consciência e da cultura dos seus cidadãos o significado do 1º de Maio. Com o passar dos anos, seu simbolismo foi ressignificado em uma espécie de luta nacional contra a organização dos trabalhadores.


Os Estados Unidos são um dos poucos países onde não se celebra o Dia dos Trabalhadores. Mas nem sempre foi assim: hoje amplamente desconhecido pela maioria dos estadunidenses, o 1º de Maio era celebrado em diversos estados, em uma mostra de solidariedade e força dos trabalhadores organizados. Foi em 1894, após a greve da Pullman (que também aconteceu em Chicago), que Grover Cleveland decretou o Dia do Trabalho na primeira segunda-feira de setembro, intencionalmente escolhido para cooptar o 1º de Maio, uma vez que as elites temiam que a comemoração da revolta de Haymarket pudesse aumentar o apoio às chamadas “causas radicais” (basicamente, as exigências de condições mínimas de trabalho e salário dignos). Seguindo o processo de esvaziamento do significado simbólico de 1º de Maio, em 1955, no auge da Guerra Fria, Eisenhower proclamou esse dia como o “Dia da Lealdade”, o que mais tarde viria a ser o “Dia da Lei”.
Mais de 130 anos depois do massacre de Haymarket os trabalhadores aqui nos EUA se vêem cada vez mais precarizados. Um estudo publicado pelo Institute of Policy Studies, um centro de pesquisas aqui de Washington, em parceria com a Poor Peoples Campaign, mostra que, embora a taxa de desemprego oficial seja baixa, os trabalhadores nos Estados Unidos se veem cada vez mais confrontados com salários baixos e  pouca estabilidade. Quase uma em cada cinco famílias tem patrimônio líquido nulo ou negativo. Esse número sobe para mais de um quarto das famílias latinas e 30% das famílias negras. Cerca de 140 milhões de pessoas (pouco mais de 43% da população total) são consideradas pobres ou de baixa renda. Desses, 41 milhões vivem hoje abaixo da linha da pobreza. Enquanto isso, três indivíduos possuem um patrimônio combinado equivalente à soma total do patrimônio de quase metade da população do país.
Por anos, os Estados Unidos apagaram da consciência e da cultura dos seus cidadãos o significado do 1º de Maio. Com o passar dos anos, seu simbolismo foi ressignificado em uma espécie de luta nacional contra a organização dos trabalhadores. A crescente precarização do trabalho e concentração de renda aqui nos Estados Unidos vem acompanhada de uma também crescente restrição na participação democrática dos trabalhadores em espaços de organização: nos últimos 50 anos, 28 estados aprovaram as chamadas leis de “direito ao trabalho”, que minam o poder dos trabalhadores de negociar coletivamente e 25 estados impediram fossem aprovadas leis de salário mínimo.
Apagar nossa história; dividir e conquistar, às custas do sofrimento de milhões de famílias e em benefício de pouquíssimos. É isso que o 1º de Maio nos ensina aqui nos Estados Unidos.

Leia também:

Michel Temer é escorraçado sob vaias em visita a incêndio no centro de São Paulo


E mais:

Os Bodes – 155


Notícias relacionadas

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *