Brasil

Guarimbas na Nicarágua: a violência desestabilizadora do imperialismo


Nos últimos dias, a Nicarágua foi tomada por protestos violentos que incendiaram grande parte do país. O que começou com algumas manifestações dispersas em rejeição às reformas propostas por Ortega no sistema previdenciário, logo adquiriu contornos de um suposto levante popular altamente violento – uma mutação muito característica das chamadas “revoluções coloridas”. Até o momento, há um saldo de 25 mortos, incluindo, entre outros, vários jovens da Juventude Sandinista que saíram às ruas em defesa do governo.
As similaridades com as guarimbas, os protestos violentos que tomaram conta da Venezuela no ano passado, são assustadoras. E, em certa medida, também lembram os protestos que levaram ao golpe no Brasil ou o massacre de camponeses que foi o estopim para o golpe contra Lugo no Paraguai. Apesar das particularidades de cada país, o objetivo é um só: desestabilizar governos progressistas para criar as condições necessárias para legitimar os golpes de Estado de diversas matizes que hoje varrem a região.
Antes vista como a vanguarda do Sul Global por seus governos com orientação social, a América Latina hoje sofre uma forte reversão dessa tendência. Governos progressistas em toda a região estão sendo substituídos, por diversos meios, por governos neoliberais, muitas vezes ilegítimos, que estão acabando com as conquistas sociais e políticas das duas últimas décadas. Ainda mais preocupante, essa inversão está levando, como descreve o sociólogo Boaventura de Sousa Santos, à consolidação de “democracias de baixíssima intensidade”, uma modalidade de Estado de Exceção em que instituições e processos que geralmente são usados ​​para descrever o que é uma “democracia” em sua acepção tradicional ainda estão lá, mas a representatividade que essas instituições e processos deveriam ter é esvaziada de qualquer significado real. Nesse sentido, o que hoje chamamos, por exemplo, de “governo” no Brasil, nada mais é do que um regime autoritário disfarçado com um verniz de democracia – regimes esses profundamente alinhados com os interesses de Washington e das elites locais e internacionais. É justamente isso que esses protestos violentos tentam agora estabelecer na Nicarágua, assim como tentaram na Venezuela no ano passado.
A Nicarágua está estrategicamente posicionada do ponto de vista geográfico, e Ortega sinalizou a possibilidade de, em parceria com a China, construir um canal interoceânico que tiraria do Canal do Panamá o posto de única artéria comercial entre os dois oceanos – o que significaria uma perda considerável para os Estados Unidos, tanto financeiramente quanto do ponto de vista do exercício de seu domínio na região. Mais: a violência dos protestos pode ser a desculpa que faltava para o Congresso dos Estados Unidos finalmente aprovar o Nica Act, o que teria consequências devastadoras para a economia nicaraguense.
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  1. Avatar
    José Eduardo Garcia de Souza says:

    Caramba! Com a breca! Esta articulista consegue superar-se a cada publicação que faz!
    Quer dizer que quando o Ortega quer reformar a Previdência na Nicarágua, com aumento de contribuições e redução de benefícios, não vale fazer berreiro e nem armar quebra quebra, certo? É coisa do imperialismo, verdade? Mas o que dizer, então, de todos os berreiros feitos e os quebra-quebras anunciados quando Temer falou na reforma da Previdência no Brasil? Foi coisa do imperialismo ianque, também? É só uma pergunta…

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