Mundo

A agenda conservadora, intervencionista e belicista de Donald Trump


O governo Trump acaba de anunciar mais um capítulo da nova “Guerra Fria diplomática” com a Rússia: a expulsão de 60 diplomatas, incluindo 12 funcionários da missão russa na ONU e o fechamento do consulado russo em Seattle. A medida é um bom exemplo da relação entre os dois países, que vem sendo caracterizada como uma política de “duas caras” dos EUA em relação à Rússia. Se, por um lado, aumentam as tensões diplomáticas oficiais, por outro, Trump segue com uma abordagem amigável em relação a Putin – na última semana, por exemplo, os dois mandatários conversaram em uma ligação que foi classificada pelo embaixador russo como “muito produtiva”. Mas a quem interessa uma política diplomática hostil com a Rússia?
Ainda que as relações entre os dois países já vinham se estremecendo desde pelo menos o golpe orquestrado na Ucrânia sob os auspícios de Hillary Clinton, as eleições de 2016 foram fundamentais para pautar as relações entre os países no governo Trump – e deu a desculpa perfeita não só para que Trump ganhasse ainda mais poderes de espionagem através da NSA (com ainda menos restrições, diga-se de passagem), mas também para que ele pudesse finalmente nomear um gabinete ainda mais pró-guerra e reacionário que sua escolha inicial.
Em uma clara indicação de que estaria montando um “gabinete de guerra”, Trump anunciou na última semana que John Bolton substituirá McMaster no começo do próximo mês como seu conselheiro de segurança nacional. Segundo David Swanson, da organização World Beyond War, a nomeação de Bolton é ainda mais extrema do que a escolha de Mike Pompeo, ex-CIA, como Secretário de Estado ou a nomeação de Gina Haspel, ex-diretora de um centro de torturas na Tailândia, para substituir Pompeo. Swanson lembra que Bolton foi um entusiasta da guerra do Iraque e avalia que atacar a Coréia do Norte seria algo lícito. Mais do que isso, Bolton é hostil à ideia de direito internacional, tendo declarado que, no “longo prazo, o objetivo daqueles que pensam que o direito internacional realmente significa alguma coisa são aqueles que querem restringir os Estados Unidos ”.
É parte essencial da política externa dos Estados Unidos a luta contra inimigos imaginários – essas grandes ameaças intangíveis, cujo combate justifica qualquer ação e legitima as mais absurdas legislações, onde abre-se mão de direitos fundamentais em nome de uma falsa sensação de segurança. Foi assim no combate ao “terrorismo”, e é assim agora no combate à “influência russa”, entre aspas. E é o mesmo modelo que vemos agora ser implementado no Brasil, onde o combate à “corrupção” justifica tudo – inclusive rasgar nossa própria Constituição.
Se no Brasil dizemos que há uma esquerda que a direita gosta, aqui nos Estados Unidos não seria demais afirmar que, quando se trata de criar inimigos imaginários, nada melhor para um republicano que uma oposição democrata. Os democratas achavam que iriam minar a legitimidade de Trump com as acusações de envolvimento russo nas eleições. O que estão efetivamente criando são as condições para que Trump leve a cabo uma agenda cada vez mais conservadora, intervencionista e belicista.

Notícias relacionadas

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *